Protesto em Zenzele
- Stefanie Laufer Terdiman
- 2 de abr. de 2017
- 2 min de leitura
Após uma manhã de trabalho investigando os processos e tentando simplificar o que já existe, ficamos sabendo que a comunidade faria um protesto pacífico e que seria interessante irmos para ver um pouco da realidade para contextualizar as dificuldades que estamos encontrando.
Chegamos na região Zenzele e nos deparamos com diversos policiais, achei bastante estranho visto que era algo tranquilo. Mas logo descobrimos que o governador havia bloqueado a marcha com medo de que houvesse depredação nas propriedades públicas. Na noite anterior a porta da prefeitura havia sido queimada e ele logo associou a ação com o protesto. Como uma boa brasileira, achei válida a "acusação", principalmente por já ter visto o que os nossos manifestantes brasileiros fizeram com a nossa cidade: ruas tomadas por violência, vidros e lojas completamente estraçalhadas e uma sensação de medo nas ruas.
Mesmo com esse cenário, os manifestantes estavam furiosos com a proibição de última hora e começaram a atacar pedra nos policiais que começaram a conter a rebelião com balas de borracha. Eu já havia visto protestos no Brasil, mas confesso que nunca havia visto um assim, tão de perto. É assustador, além de passar uma sensação absurda de raiva. Raiva de termos pessoas vivendo em situações assim, raiva do capitalismo, raiva do sistema de governo. É muito difícil ver a realidade de perto.
Muito mais fácil seria ver no jornal, de longe. Esse foi inclusive um argumento utilizado pela líder do movimento. Ela disse que nas eleições o candidato havia ido na região e prometido que construiriam casas no lugar de casebres. E agora que já está eleito, está utilizando a justificativa de que essa terra é composta por um mineral que chama dolomita, que não sustenta nenhuma estrutura metálica e que não seria seguro construir na região.
Após um tempinho observando, um caminhão da polícia que havia entrado na comunidade voltou, abriu a porta e um dos policiais gritou que devimos correr e ir embora, que os manifestantes estavam armados, que haviam baleado um policial. Saímos todos correndo e entramos na van.
A gravação está muito ruim, mas acho que ela vale muito mais do que se eu tentasse descrever, foi um momento muito difícil de aceitar e assimilar e voltamos todos quietos até o escritório. Há pessoas que estão 20 anos na fila por casas próprias (há 130 mil pedidos na província de West Rand). Na situação que estão hoje, não tem nem água encanada, nem eletricidade, visto que não tem como passar a infra-estrutura em paredes improvisadas. Uma situação muito difícil. A prefeitura realmente precisa tomar alguma atitude e demonstrar mudanças pois nas condições que eles moram é realmente impossível viver.
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